Entrevista com Dale Elvy, o criador de EPOCH
Há quanto tempo você joga RPG? Quais games você joga/jogava mais ou mais gostava? Conte-nos um pouco sobre sua vida gamer.
Eu comecei no RPG na adolescência e jogava diversos jogos, mas o Chamado de Cthulhu foi o que mais me impressionou, tecendo terror e história e contestando a idéia de que a sobrevivência dos personagens era garantida. Alguns anos depois eu comecei a mestrar jogos em convenções locais e me deparei com o desafio de criar uma história excitante e envolvente para um grupo de estranhos, com passados e expectativas totalmente diferentes, e achei isso particularmente divertido e recompensante.
Acho que Rastro de Cthulhu e Esoterrorists são bem legais também. Gosto de jogos de super-heróis e venho acompanhado o Mutantes e Malfeitores desde sua primeira edição, no entanto eu acho que sistemas mais aerodinâmicos como o BASH são mais apropriados ao meu estilo de jogo (focado nos personagens) em aventuras soltas. Eu amo o jeito que o Rogue Trader incorpora tantas idéias legais de ficção científica juntas e explicitamente incorpora motivações gananciosas e exploratórias no mundo do Warhammer 40K.
O que você mais gosta em RPGs?
Eu gosto de contar histórias com as pessoas. Quando eu jogo, gosto de explorar uma história através da pele de um personagem, e explorar como a história daquele personagem muda e evolve durante o jogo. No entanto, eu também gosto de mestrar e ter que trazer à vida personagens e lugares que os personagens encontram, e vê-los reagir à isso. Os melhores jogos criam experiências reais e viscerais para os personagens, que aliam humor e realismo e criam um forte senso de memórias compartilhadas, que por ventura acabam por se tornar lembranças de momentos ótimos entre pessoas.
O que você tem jogado no momento?
Eu tenho mestrado uma campanha de Chamado de Cthulhu. Entre sessões da campanha meu grupo joga Rogue Trader, e frequentemente testamos novos cenários de EPOCH. Eu também tento sempre ir em convenções locais para levar o EPOCH e também para mestrar Chamado de Cthulhu e outros cenários de Super-Heróis, mas as vezes me contento em apenas joga o que está disponível (mais recentemente, joguei Apocalypse World).
Você criou algum outro sistema antes do EPOCH? Se sim, como era?
EPOCH foi o primeiro sistema que criei. Mas eu já escrevi alguns cenários atípicos – um cenário para Chamado de Cthulhu passado na Idade das Trevas chamado “Malevolence” que foi publicado no “Words of Cthulhu #3” e um cenário no Velho Oeste chamado “Sundown” que foi escrito para celebrar o 30o. aniversário do Chamado de Cthulhu. Eu também escrevi um cenário de super-heróis para ICONS situado na Nova Zelândia chamado “The Aotearoa Gambit” junto com o co-autor do ICONS, Morgan Davie e que foi lançado como um projeto de caridade para levantar fundos para o Sismo de Canterbury de 2011.
Quais foram suas inspirações para criar EPOCH? Você foi inspirado por algum RPG? Qual?
O EPOCH foi fortemente influenciado por um largo panteão de jogos de horror que apareceram e sumiram com o tempo. Esses gigantes expandiram nossos horizontes do que é possível em um RPG e ajudaram a esculpir um importante trabalho. Jogos como Chamado de Cthulhu, Kult, Rastro de Cthulhu, Fear Itself, Little Fears, Don’t Rest Your Head, Dread, Zombie Cinema, e muitos outros, tiveram todos influências no EPOCH, de uma forma ou de outra. Obviamente, filmes de terror de todos os tipos também foram uma grande influência.
Como você reagiu quando foi indicado ano passado para os três primeiros ENies? Isso foi esperado?
Eu fiquei honrado, especialmente pelas indicações de Melhores Regras e Produto do Ano. Foi totalmente inesperado, já que eu não fazia a menor idéia de como o processo funcionava, ou como meu trabalho se equipararia com outros jogos produzidos em 2012. Eu acho que foi o verdadeiro reconhecimento da experiência inovadora que o EPOCH trás aos RPGs, e mostra que mesmo uma editora pequena pode ganhar reconhecimento internacional.
E a indicação do “War Stories”?
Eu sabia que o “War Stories” era uma boa coletânea, mas eu não fazia idéia de que os críticos iriam concordar, especialmente quando comparado à outras aventuras lançadas em 2013. Eu fiquei muito satisfeito com a indicação – particularmente pelos autores que contribuíram cenários para a coletânea, de modo que eu acho que isto é um grande reconhecimento para algumas das excelentes e evocativas histórias contidas alí.
O que faz o EPOCH diferente de outros jogos de RPG? Por que as pessoas deveriam comprá-lo ao invés de outros sistemas?
O EPOCH explicitamente liga os desfechos esperados do jogo com as mecânicas. É um jogo onde o estilo, o cenário e as mecãnicas colocam os personagens no centro da história, e não importando suas decisões durante o jogo, o resultado é sempre uma história de terror tensa e envolvente.
Como jogador, o EPOCH é um jogo intenso. Você começa criando um rascunho de personagem, as vezes se inspirando em arquétipos conhecidos de filmes, e através de uma cena de abertura estruturada e alguns elementos de personagem pré-gerados você desenvolve algumas boas e fortes idéias sobre seu personagem. Mas deste ponto em diante, o personagem evolui de modo que você está tentando se destacar dos demais enquanto interage com eles – tentando ganhar a votação que lhe dará uma carta extra, e mais uma chance de sobreviver. O flashback que você ganha por não ganhar a votação em uma rodada pode ser tão poderosa quanto, já que ele fornece um excelente modo de revelar momentos excitantes do passado de seu personagem. Você também é constantemente tentado com uma decisão difícil – jogar sua carta de Herói/Zero como um Zero e reduzir a chance de sobrevivência de outro personagem ou jogá-la como Herói e ajudar outro personagem enquanto diminui suas próprias chances de sobrevivência? É uma escolha que você logo terá que fazer; e faça-a ser interessante de modo que a chance de sobrevivência de seu personagem aumente. Conforme o jogo se desenvolve, assim faz seu personagem, enquanto você se mantém atento à Trilha de Terror – esperando que, caso seu personagem sobreviva, que ele consiga até mesmo ter um final feliz.
Como Mestre, o EPOCH é um jogo que é bem direto-ao-ponto para se mestrar, já que cada cenário funciona como uma estrutura de terror para os personagens ao invés de ser uma história que eles precisam investigar. Isto lhe permite concentrar em adaptar o cenário aos personagens, levando emoção à eles e enfatizando como o terror aflige cada um. A mecânica de desafio e da votação garantem que você não precise decidir quem é atacado, eliminado, quando, ou em traduzir as ações dos personagens em testes e rolamentos mecânicos – todos os personagens ficam frente-a-frente com a eliminação e todos os jogadores narram o impacto que este desafio tem em seus personagens enquanto jogam suas cartas de resultado. Você vota junto com os outros jogadores, e a conclusão de cada rodada de desafio fornece a pausa natural para se preparar para a próxima fase de tensão. Você também monitora e revela a Trilha de Terror, revelando assim o progresso coletivo dos personagens para se derrotar a fonte do terror.
Alguma dica que você gostaria de dar para que os Mestres atinjam a atmosfera proposta pelo EPOCH?
A maioria das dicas que eu dou já estão inclusas no EPOCH, mas para resumir: os Mestres tem que trabalhar em conjunto com seus jogadores para chegar à uma clima tenso, eles devem adicionar o máximo de detalhe e descrições, assim como caracterização, possívels. Assim como também devem não quebrar a imersão durante as Fases de Tensão.
Quais são seus escritores favoritos não-relacionados à RPG?
No momento, no topo da minha prateleira estão Joe Abercrombie, Steph Swainston, K. J. Parker, Scott Lynch e China Mieville.
Você está trabalhando em algum projeto novo? Pode compartilhar conosco?
Atualmente estou trabalhando em “O Experimento Continua” que será um compêndio do EPOCH que trará conselhos, dicas e opções aos jogadores assim como diversos cenários novos.
Sendo um Neozelandês, fica aqui nossa pergunta obrigatória sobre Senhor dos Anéis: você gostou dos filmes? O que espera do “A Batalha dos Cinco Exércitos”?
Eu achei excelentes. Eu tive muita sorte em consegir ir em uma pre-estreia do Duas Torres com um pessoa do Weta que trabalhou nos efeitos especiais, graças a um amigo que trabalha para a companhia e foi incrível. Eu acho que é bem certo dizer que Sir Peter Jackson irá trazer um filme épico e envolvente para completar a trilogia.
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